domingo, 22 de junho de 2014

Os desafios do tradutor técnico

A literatura técnica é um universo muito diferente da literária. O tradutor de literatura geral precisa se preocupar principalmente com a interpretação do texto, transmitindo o conteúdo emocional da forma que está no original. Por isso pode se tomar algumas liberdades com o vocabulário, alterando a seqüência das palavras e outros métodos. Palavra a palavra, o texto traduzido freqüentemente aparenta ser diferente do original, mas nas mãos de um tradutor habilidoso seu conteúdo é fiel ao original. O tradutor literário de certa forma tem que ser um escritor ele mesmo, interpretando o texto de outro escritor.

O tradutor técnico não pode se tomar essas liberdades. Seu texto tem que se manter fiel no vocabulário e na seqüência. Um texto técnico não tem o conteúdo emocional da literatura, ele tem que ser exato e preciso, transmitindo o significado das palavras sem alterações.

Por isso o tradutor técnico tem que ser técnico ele mesmo, entendendo pelo menos o básico do assunto em pauta. Isso significa ter domínio do jargão específico, entendendo a seqüência das frases e sabendo traduzir isso sem alterações ou interpretações próprias.

O problema é que o mundo técnico é vasto e abrange muitas áreas com pouco relacionamento entre si. Por exemplo, um texto sobre a construção de barragens tem nada a ver com subestações elétricas, e muito menos com a fabricação de semicondutores. Mas esses assuntos existem, têm jargão próprio, e os manuais traduzidos têm que ser fieis, usando os termos de engenharia de cada área. O tradutor literário estaria completamente fora das suas águas. 

Um tradutor iniciante ou amador recorreria a um dicionário com verbetes genéricos, criando uma tradução esdrúxula. Quando não encontra uma tradução deixa o termo no original, pensando que sendo “técnico” será aceito. Em informática e alguns casos de eletrônica isso até confere por falta de termos tradicionais. RAM e e-mail todos conhecem, mas ninguém quer ver “crankshaft” num texto de manutenção mecânica quando o certo é virabrequim.

O bom tradutor técnico sabe e reconhece que não sabe tudo de todas as áreas que possam vir a serem traduzidas. É claro que o tradutor experiente sabe bastante de vários assuntos e está preparado para começar logo o trabalho. Quando surge um assunto ainda desconhecido sabe onde pesquisar para se entrosar. O primeiro passo é procurar textos em ambas as línguas, extraindo os termos técnicos específicos correspondentes e assim construir um glossário. Uma vez feito isso pode prosseguir com a tradução propriamente. O glossário fica armazenado com outros, facilitando o serviço para a próxima vez que o assunto aparece.

Mesmo assim o tradutor técnico não pode relaxar, precisa estar sempre preparado para o caso de algum termo ainda desconhecido e saber se atualizar no caso de áreas muito dinâmicas, como por exemplo, a informática.

O tradutor técnico nas horas vagas é um leitor, passando seu tempo livre lendo artigos técnicos e científicos pelo puro prazer da leitura e pela aquisição de novas informações.

O tradutor técnico tem formação técnica, com experiência no chão de fábrica e de engenharia, já traduziu textos e manuais para seus colegas de trabalho e é um apaixonado tanto por tecnologia como por línguas. Ele usa linguagem precisa, chegando até a ser meio pedante com as pessoas que se expressam de forma incorreta sobre assuntos técnicos. 

***************************************************************

O autor é técnico em eletrônica, tendo trabalhado com instrumentação industrial, automação e controle de processo, programação de computador e supervisão de equipe de montagem. Fora o português tem fluência total em inglês e sueco. 

Informações de contato se localizam em


Nenhum comentário:

Postar um comentário