Os desafios do tradutor técnico
A literatura técnica é um universo muito diferente da literária. O
tradutor de literatura geral precisa se preocupar principalmente com a
interpretação do texto, transmitindo o conteúdo emocional da forma que está no
original. Por isso pode se tomar algumas liberdades com o vocabulário,
alterando a seqüência das palavras e outros métodos. Palavra a palavra, o texto
traduzido freqüentemente aparenta ser diferente do original, mas nas mãos de um
tradutor habilidoso seu conteúdo é fiel ao original. O tradutor literário de
certa forma tem que ser um escritor ele mesmo, interpretando o texto de outro
escritor.
O tradutor técnico não pode se tomar essas liberdades. Seu texto tem que
se manter fiel no vocabulário e na seqüência. Um texto técnico não tem o
conteúdo emocional da literatura, ele tem que ser exato e preciso, transmitindo
o significado das palavras sem alterações.
Por isso o tradutor técnico tem que ser técnico ele mesmo, entendendo
pelo menos o básico do assunto em pauta. Isso significa ter domínio do jargão
específico, entendendo a seqüência das frases e sabendo traduzir isso sem
alterações ou interpretações próprias.
O problema é que o mundo técnico é vasto e abrange muitas áreas com
pouco relacionamento entre si. Por exemplo, um texto sobre a construção de
barragens tem nada a ver com subestações elétricas, e muito menos com a
fabricação de semicondutores. Mas esses assuntos existem, têm jargão próprio, e
os manuais traduzidos têm que ser fieis, usando os termos de engenharia de cada
área. O tradutor literário estaria completamente fora das suas águas.
Um tradutor iniciante ou amador recorreria a um dicionário com verbetes
genéricos, criando uma tradução esdrúxula. Quando não encontra uma tradução deixa o termo no
original, pensando que sendo “técnico” será aceito. Em informática e alguns
casos de eletrônica isso até confere por falta de termos tradicionais. RAM e e-mail todos conhecem, mas
ninguém quer ver “crankshaft” num texto de manutenção mecânica quando o certo é
virabrequim.
O bom tradutor técnico sabe e reconhece que não sabe tudo de todas as
áreas que possam vir a serem traduzidas. É claro que o tradutor experiente sabe
bastante de vários assuntos e está preparado para começar logo o trabalho.
Quando surge um assunto ainda desconhecido sabe onde pesquisar para se entrosar.
O primeiro passo é procurar textos em ambas as línguas, extraindo os termos técnicos
específicos correspondentes e assim construir um glossário. Uma vez feito isso
pode prosseguir com a tradução propriamente. O glossário fica armazenado com
outros, facilitando o serviço para a próxima vez que o assunto aparece.
Mesmo assim o tradutor técnico não pode relaxar, precisa estar sempre
preparado para o caso de algum termo ainda desconhecido e saber se atualizar no
caso de áreas muito dinâmicas, como por exemplo, a informática.
O tradutor técnico nas horas vagas é um leitor, passando seu tempo livre
lendo artigos técnicos e científicos pelo puro prazer da leitura e pela
aquisição de novas informações.
O tradutor técnico tem formação técnica, com experiência no chão de fábrica
e de engenharia, já traduziu textos e manuais para seus colegas de trabalho e é
um apaixonado tanto por tecnologia como por línguas. Ele usa linguagem precisa,
chegando até a ser meio pedante com as pessoas que se expressam de forma
incorreta sobre assuntos técnicos.
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O autor é técnico em eletrônica, tendo trabalhado com instrumentação
industrial, automação e controle de processo, programação de computador e supervisão
de equipe de montagem. Fora o português tem fluência total em inglês e sueco.
Informações de contato se localizam em
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