sábado, 9 de abril de 2016

O piso mais liso do mundo.

Estou flutuando pelo vazio, sentado num sofá. Em cima, uma lona prateada ondula na brisa. É o protótipo de uma vela solar. A cadeira desliza pela escuridão, nada para detê-la de seguir assim pela eternidade.

A estranha sensação de estar voando pelo espaço numa almofada é extremamente relaxante, desorienta mas sem causar vertigens. A suavidade do movimento faz minha companheira no sofá, uma engenheira da NASA, sentar com as pernas cruzadas e os olhos fechados, como num trance zen, enquanto deslizamos pelo escuro.

Infelizmente, num tempo curto demais, nosso sofá espacial encosta na plataforma de embarque e voltamos à terra firme na área do piso liso na Marshall Spaceflight Center em Huntsville Alabama.

Apesar da sensação de estar voando pelo espaço, o sofá espacial da NASA estava na realidade voando sobre jatos de ar comprimido uma fração de milímetro em cima de uma superfície polida, perfeitamente lisa. Imagine uma mesa de air hockey onde o puck, em vez da mesa, produz o jato de ar.

O Piso Liso é reconhecido como a superfície mais lisa do mundo. Feita de resina epóxica preta, cobre a base de um galpão de 26 metros. Pode-se movimentar objetos sobre ela numa plataforma pneumática sem atrito. Isso significa que uma vez algo se move, segue em movimento até colidir com outro objeto, exatamente como faria no espaço.

O sofá é usado para demonstrar a área para visitantes, mas o piso liso foi desenvolvido para testar sistemas de engate de espaçonaves e outros projetos e ideias.

"Não podemos deslocar verticalmente, mas podemos deslocar em todas as outras dimensões", diz Thomas Bryan, o engenheiro sênior responsável pelo piso liso, que guiou nossa viagem no sofá nos empurrando pelo galpão com o dedo. É um excelente meio de simular movimentos no espaço. "De fato é o que usamos para simular espaçonaves".

O piso liso está no momento sendo usado para desenvolver espaçonaves capazes de interceptar e capturar satélites mortos e demais lixo espacial. Se acoplariam aos satélites mortos, puxando-os até a atmosfera onde queimariam.

Com o piso preto polido, paredes sem janelas, holofotes parecendo estrelas e a reluzente vela solar, tudo se parece espacial e futurístico. No entanto, um aspecto dessa área de testes incomum demonstra que mesmo as tecnologias avançadas da NASA têm que lidar com problemas terráqueas.

"O nosso maior problema foi por causa dos gatos", admite Bryan, apontando o dedo para linhas de manchas atravessando parte do piso. "Aquilo são pegadas de gato - eles viviam nos túneis do prédio e de noite fizeram disso seu playroom".

"As pegadas fizeram o epóxi expandir", ele explica. "Nos colocamos barreiras para impedi-los, mas agora temos uma memória permanente das suas pegadas".

O porquê dos gatos gostarem tanto é compreensível. Eu podia passar horas aqui, deslizando no sofá sem atrito pelo piso mais liso da América

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